Foi assinado nesta terça-feira (22), na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Acordo de Cooperação que dá início ao Projeto Conviver São Paulo.
Inédito no país, o programa nasce como um equipamento educacional e social com foco nas populações em situação de rua e em vulnerabilidade social da capital paulista.
A parceria entre o SESI-SP, a Fiesp e a Pastoral do Povo da Rua, com apoio do Conselho Nacional do SESI e do Instituto Popular Paulo Freire, vai oferecer educação, atividades culturais, apoio psicossocial e fortalecimento de vínculos a pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade, promovendo inclusão social, cuidado integral e novas possibilidades para a reconstrução de trajetórias de vida.
A proposta integra, ainda, salas de aula com ensino para jovens e adultos (EJA), recomposição de aprendizagens, letramento social, práticas culturais e atividades físicas, com acompanhamento pedagógico e psicológico individualizado.
O projeto contará com a participação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), responsável pela indicação e acompanhamento dos participantes, visando garantir a adesão e a efetividade do atendimento à saúde mental da população em situação de rua. A metodologia adotada inclui ensino circular, comensalidade e respeito à trajetória de cada pessoa, muitas vezes marcada por violações de direitos e invisibilidade social.
“É mais do que alfabetizar. É reconhecer trajetórias interrompidas e oferecer um novo começo”, afirmou o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, reforçou o papel social da iniciativa. “Trata-se de uma ação educativa com base na dignidade, na escuta e na valorização da vida”, afirmou. Para ele, a indústria tem responsabilidade na construção de um país mais justo e menos desigual, e projetos como o Conviver reafirmam o compromisso do setor produtivo com a inclusão, a cidadania e a transformação social.
Padre Júlio Lancellotti, referência na luta pelos direitos das pessoas em situação de rua e coordenador da Pastoral do Povo da Rua, enxerga a iniciativa como um recomeço para a população atendida.
“A aporofobia, que é a rejeição ao pobre, ao diferente e, neste caso, à pessoa em situação de rua, ocorre de maneira muito forte na convivência em sociedade. O projeto Conviver traz o contrário do repelir: é conviver, estar junto, poder ouvir, poder olhar, poder falar, poder partilhar, construir conhecimento junto. Este projeto significa resistir com esperança."
Com mais de 40 anos dedicados à defesa dos direitos das pessoas em situação de rua, padre Júlio Lancellotti reforça que o acolhimento e a convivência são caminhos fundamentais para o enfrentamento da aporofobia — termo cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina para definir a rejeição sistemática aos pobres e marginalizados.
EJA pela inclusão educacional
Para o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, o compromisso de implementar o Projeto Conviver SP representa um movimento para combater a exclusão educacional e, ao mesmo tempo, promover a inclusão social, oferecendo oportunidades de recomeço.
"Acreditamos que a educação é uma saída fundamental para que a gente encontre novas possibilidades para a vida das pessoas. A situação de rua é, como o nome diz, uma situação. Por isso, acreditamos que é possível não só trazer essas pessoas de volta para a família, para a escola, para o mundo do trabalho, como também dar um passo fundamental em direção à cidadania.”
Como professor, Fausto defende que é preciso “aprender a lidar com as diferenças e as vulnerabilidades e, a partir disso, construir uma sociedade melhor, mais justa, mais solidária", destaca.
A educadora e presidenta do Instituto Popular Paulo Freire, Teresa Ribeiro, destaca a relevância do projeto para toda a esfera educacional.
"O Projeto Conviver representa um processo de humanização. Tanto para a população em situação de rua, como para as pessoas que estão envolvidas nele, como professores, monitores e todos os atores que vão contribuir com esse processo de educação”, afirma Teresa.
Ela destaca ainda que o projeto está em sintonia com a máxima do educador Paulo Freire: “É fundamental diminuir a distância entre o que se fala e o que se faz, de tal forma que a nossa fala seja a nossa prática”.