III Encontro de Educadores do Século XXI debate desafios da educação em tempos de complexidade

Especialistas, gestores e professores refletem sobre inclusão, inovação, sustentabilidade e participação estudantil

Por: Vanessa Ramos e Luisa Bretas
11/07/2025 - 18:52
III Encontro de Educadores do Século XXI debate desafios da educação em tempos de complexidade
Professor Fausto Augusto Junior na abertura do III Encontro de Educadores do Século XXI| Foto: Vanessa Ramos
Teve início nesta sexta-feira (11), na Casa Firjan, o III Encontro de Educadores do Século XXI, “A escola em tempos de complexidade”, que prossegue até este sábado (12). O evento reúne especialistas, gestores e professores para debater como as transições climática, tecnológica, geopolítica e etária influenciam o cotidiano escolar.
 
Na abertura, o diretor de Educação e Cultura da Firjan SENAI SESI, Vinícius Carvalho Cardoso, chamou atenção para a temática do encontro.
 
“O problema da complexidade é nossa dificuldade de compreender o todo, com suas incertezas, interdependências e partes que desconhecemos”, afirmou.

Segundo ele, a escola é um exemplo clássico de sistema social complexo e adaptativo, dinâmica por natureza, influenciada por múltiplos agentes e, portanto, refratária a soluções simplistas. “É preciso resistir às respostas fáceis e promover pensamento complexo, participação ampla e escuta qualificada”.
 
Cardoso destacou que o evento realizado no Rio de Janeiro tem se consolidado como um espaço plural, aberto e colaborativo, reunindo profissionais comprometidos com uma educação mais justa e de qualidade.
 
Ao comentar o sucesso do evento, que teve todas as vagas preenchidas em menos de 24 horas, ele celebrou o espírito coletivo e a disposição dos participantes em compartilhar experiências, desafios e boas práticas. “Estamos entre pessoas que compartilham os mesmos compromissos, independentemente de suas origens ou instituições. Isso faz deste encontro um espaço potente de troca.”
 
O diretor também apresentou o projeto Convivência Escolar, elaborado a partir de uma pesquisa com mais de 5 mil alunos da rede SESI do Rio de Janeiro.
 
A proposta tem quatro pilares: participação estudantil ativa, atenção psicossocial, educação midiática e comissões permanentes de convivência. “A escola deve ouvir seus alunos com seriedade, porque são eles que dão sentido ao processo educativo. Eles são parte ativa da construção do conhecimento.” Cardoso também enfatizou o papel da cultura e da arte na criação de ambientes escolares mais acolhedores e criativos, essenciais para o bem-estar e a inovação.

Grandes transições
 
Também na abertura, o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, afirmou que “a sociedade vive um tempo de grandes transições” climática, tecnológica, etária e geopolítica, e defendeu que a escola deve deixar de ser “o único lugar do saber” para se tornar “aliada da inovação, e não refém dela”.
 
Ao abordar a questão da transição climática, Fausto citou sua visita recente ao Rio Grande do Sul, onde acompanhou as gravações de um documentário sobre a atuação do SESI durante as enchentes. “Os mais pobres e vulneráveis serão os primeiros a sofrer os impactos da mudança climática”, alertou, ao defender a urgência de articular a escola a ações de resistência comunitária.
 
Em seguida, o presidente destacou a capilaridade da rede SESI: “Temos 457 escolas no Brasil, com mais de 360 mil matrículas em educação básica regular e EJA, e mais de 12 mil professores atuando nos 27 estados, da educação infantil ao EJA em presídios e junto à educação indígena”. Para ele, esse alcance “não só sustenta o trabalho cotidiano, mas traz a oportunidade de aprender com realidades diversas e refinar continuamente nossa prática educativa”.
 
EJA Profissionalizante
 
Previsto para ofertar 25 mil vagas em todo o país, o Programa SEJA PRO+ Trabalho e Emprego foi citado pelo presidente do CN-SESI durante o evento, como uma importante ação que une educação básica e qualificação profissional para jovens de 18 a 29 anos.
 
Fruto de parceria entre o CN-SESI, o Departamento Nacional do SESI e o Ministério do Trabalho e Emprego, sua primeira edição foi em abril, na Bahia, com 3 mil vagas. Na última terça-feira (8), o programa chegou a Porto Alegre, com 1.750 oportunidades distribuídas em 11 municípios gaúchos.
 
“O SEJA PRO+ permite que jovens trabalhadores retomem as salas de aula com um olhar humanizado – são trabalhadores que estudam, não estudantes que trabalham”, afirmou Fausto Augusto Junior.
 
Relações humanas e educação
 
O professor português José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, defendeu durante o III Encontro de Educadores do Século XXI a necessidade de abandonar o modelo educacional centrado no professor e no aluno. Para ele, as escolas tradicionais mantêm o docente isolado em sua “grade” e os estudantes sem interlocução, o que compromete a formação de vínculos afetivos e inviabiliza a construção de um projeto coletivo de aprendizagem.
 
Pacheco ressaltou que o verdadeiro motor da inovação escolar são as relações humanas. “A escola é feita por pessoas e pelos valores que cada uma delas traz”, afirmou, lembrando que esses valores, transformados em princípios de ação, geram iniciativas colaborativas, pois ninguém aprende ou ensina sozinho.
 
O educador concluiu propondo uma reconfiguração total dos espaços e métodos de ensino. “O essencial não é o prédio, mas a forma como projetamos experiências que envolvam comunidade, autonomia e compromisso ético”, disse, apontando para a construção de ambientes escolares mais democráticos, inclusivos e alinhados aos desafios do século XXI.

Utilizamos cookies para permitir o funcionamento de nosso site e para coletar estatísticas de visitas para melhorar sua experiência de navegação. Saiba mais em nossa política de cookies ou gerencie suas permissões. Fale com nosso DPO através do e-mail: lgpd.cnsesi@cnsesi.com.br